A música que queria sair
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Hoje passei o dia com aquela vontade de cantar, como se tivesse algo meio preso lá dentro; e cantar com conforto, com liberdade e com verdade, envolvimento é a melhor sensação do mundo pra mim. Não troco por nada!
Então porque eu fujo disto, porque não aceito esse desejo e invisto nisso, mesmo depois de pessoas como a Tuca da ULM e a Ithamara Koorax me darem todo o apoio. Sei lá! Acho que é medo, medo de ser artista de verdade, isso faz alguma coisa com a alma da gente que é meio assustador sabe, é mais confortável ensinar, coordenar, dirigir, etc... Fora que dá muito trabalho ser artista, não é trabalho de meio período.
Mas a frustração de não estar fazendo minha arte é um incômodo constante, é aquele algo preso no peito, que quando sai parece que dá um alívio, parece que tudo faz mais sentido e a gente lembra pra que mesmo veio nesse mundo.
Hoje consegui pôr pra fora, e gravei um pedaço do que saiu, foi legal...
Mas antes fiquei um tempão eu e o violão, cantando as mesmas músicas de sempre que eu não aguento mais, não consigo tirar um pingo de vida de algumas delas. Aí enchi o saco, apaguei a luz e comecei a inventar umas coisas, viajei na intro da Procissão "meu divino São José...", achei uma voz abertona, bem de cultura popular sabe, e achei tão bonito, gravei pra conferir, não é que fica bem legal, me deu muita vontade de explorar mais isso, montar um repertório que tenha essa cara e mandar ver, tem a ver com o Blues, é aberto, raçudo, verdadeiro.
Aí percebi que por mais que eu seja apaixonado por música sofisticada, tem momentos que se eu não sacio antes minha necessidade básica de cantar algumas coisas mais fortes, mais diretas, parece que o resto não rola. Acho que este canto é a base do que vem depois, como se eu precisasse de um alicerce de uma música mais enraizada, mais de base, mais direta pra depois partir pra coisas mais sutis. Tipo matar a vontade de um canto pra fora, direto da alma pra depois partir pra outras viagens.
Sacar como é este processo pessoal para encontrar sua voz mais livre é muito importante e muuuuito pessoal sabe, tem mais a ver com estado de espírito do que com técnica vocal.
E ninguem vai te ensinar como chegar a determinado estado de espírito, é a gente que tem que encontrar o caminho, e acho que esse é o mérito do artista, todos temos coisas lindas pra mostrar guardadas e o artista sabe traçar o caminho na sua alma pra encontar e mergulhar nesse lugar, tudo na frente dos outros! É realmente como estar pelado.
Eu mesmo não fico, é muito raro acontecer, me escondo atrás de algumas coisas pra não me expôr tanto...
Mas enfim, depois de ter tirado o que podia do voz e violão, peguei o microfone e comecei a gravar vozes em cima de vozes, sem parar pra pensar em nada, fim de um momento já sendo o começo do outro, foi muito louco!
Não mexi em nada, não editei nada e não pus nenhum efeito, ouçam aí levando tudo isso em consideração, não é nada acabado, só uma brincadeira minha.
O fim era pra ser o começo de outra coisa, um momento mais Brasil, mas aí cansei...