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Os caminhos da fritura…

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

      Há mais de dez anos trilho o caminho do artista-educador, alguém que artisticamente atua como guia para o fazer musical; estes foram anos de reflexões e descobertas, erros e acertos, êxtases e frustrações, e antes de tudo de constantes mudanças de paradigmas.
     Acho fundamental que sejamos sempre questionadores, e acho que o músico artista deve questionar as tradições e dogmas da qual nossa arte está repleta (muitas datando da França pós revolução). Estas tradições, dogmas e paradigmas muitas vezes não dialogam com nossa realidade e estão presentes no discurso das instituições técnicas e acadêmicas de ensino musical.
    Naturalmente eles se manifestam em padrões de pensamento antiquados, hábitos mentais inconscientes, normas profissionais pouco questionadas, e chavões vazios repetidos como verdades que frequentemente tornam o ensino e a prática musicais um processo de “anti-descoberta”, onde somos instruídos a ignorar sensações, intuições e desejos em prol de um conhecimento fechado e preconcebido: uma receita.
    Não existe receita para uma prática musical coletiva livre, sincera e criativa, é algo que exige sensibilidade, disponibilidade, entrega, paixão e coragem, coisas que nenhuma metodologia é capaz de substituir. No entanto existem caminhos, e existe muita gente constantemente investigando-os como quem investiga sua própria essência, o Fritos é pra mim um lugar onde essa investigação sempre acontece.
    Apesar de não participar do grupo na época em que Fernando Barba e Stênio Mendes conduziam o grupo, tenho certeza de que o ambiente e a filosofia que sustentam nossos encontros até hoje tem muito a ver com essas duas figuras, e a sua maneira de enxergar e guiar o fazer musical.
    Desde 2009, quando me juntei ao grupo, vejo cada um dos membros contribuindo para o que eu considero uma busca coletiva pelo fazer musical com o qual sonhamos. Nem todos conduzem propostas mas todos participam da construção desse caminho do grupo rumo ao que nós ainda não descobrimos.
    Meu mestre Samuel Kerr fala da importância de desenvolver uma escuta interior, relacionada à escuta anterior: “tudo o que você aprendeu a escutar, ao longo de sua vida: instantes retidos na memória”, à escuta exterior: “tudo o que você tem ouvido ao seu redor” e à escuta posterior: “tudo o que ainda não soa, mas que você já escuta! Sonhar, inventar, pesquisar…”. (trechos de ensaio do Maestro Samuel Kerr).
    Pra mim o Fritos é um constante e imensamente prazeroso exercício de escuta, onde usamos nossa escuta interior, exterior e anterior, escutando quem somos, o mundo em que vivemos e as trilhas deixadas pelos que nos antecederam, para encontrar o nosso fazer musical; e também nossa escuta posterior, escutando um mundo que ainda não soa, mas que já escutamos dentro de nós, para contribuir com a construção de um fazer musical diferente, junto aos nossos mestres e parceiros que escutam na mesma direção.
    Pessoalmente, quando me escuto hoje dentro do grupo, tentando descobrir o que de fato estou fazendo ali, ouço a sensação clara e definida de que antes da técnica, antes do prazer estético, antes dos desejos individuais, o Fritos tem a ver com a felicidade de estar junto ao outro, uma felicidade única que só sentimos enquanto pesquisamos e vivemos juntos a música corporal.

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