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Criatividade

domingo, 28 de março de 2010

Vocês conhecem a TED? É uma associação sem fins lucrativos dedicada a "Ideas Worth Spreading", idéias que valem a pena, eles organizam conferências onde pessoas das mais diversas áreas (cientistas, artistas, ativistas, educadores, ambientalistas, etc) falam sobre assuntos e idéias pertinentes e transformadoras.

Vale muito a pena! Pra quem não fala inglês, várias delas tem legendas em português.

Enfim, estava um dia desses no site e assisti uma fala (assista nesse link) de Elizabeth Gilbert (escritora do best seller Eat, Pray, Love (Comer, Rezar, Amar)) sobre criatividade.

Tendo como exemplo a enorme expectativa sobre seu próximo trabalho, ela fala da pressão sobre o criador, da quantidade de mortes e suicídios e vidas miseráveis entre artistas criadores, da noção que aceitamos coletivamente de que criação e sofrimento estão intimamente ligados de alguma forma. Ela então chama a atenção para quão prejudicial e cruel é esse pensamento, e o quanto ele é psicologicamente perigoso para o próprio artista, e argumenta que nem sempre foi assim.

Na antiguidade clássica por exemplo a idéia era que a criatividade não vinha do ser humano, mas de espíritos divinos como o "daemon" grego  ou os "gênios" romanos que traziam inspiração aos artistas, a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso de uma obra não era exclusiva do artista, mas do seu "gênio" também. A partir da Renascença, com o homem como medida e centro de tudo, surge o conceito de que o indivíduo é em si um gênio, a fonte de toda a beleza, genialidade e criatividade de sua arte, e segundo ela isso vem destruindo nossos criadores nos últimos 500 anos.

Pesquisando o processo criativo de artistas contemporâneos, ela encontra caminhos muito mais interessantes do que o do martírio do gênio solitário, cita exemplos de criadores que concebem a inspiração como vindo de fora de si, seu papel sendo captá-la e concretizá-la.

Para todo artista existem momentos de transcendência, onde algo acontece além do controle e compreensão, algo que podemos chamar de divino. O problema é o dia seguinte, quando acordamos e enfrentamos a realidade do mesmo ser humano de sempre, com medos, limitações e dificuldades, e ansiamos por aquele lampejo genial novamente.

O conselho de Elizabeth pra lidar com isso é não acreditar que esses aspectos extraordinários do seu ser vem exclusivamente de você, mas que eles foram emprestados para você por uma fonte inimaginável por alguns raros momentos especiais de sua vida, pra depois passar adiante.

O conselho dela é não tenha medo e continue comparecendo para sua parte do trabalho: escrever, dançar, cantar, atuar, tocar... se o seu "gênio divino" resolver aparecer e soltar algo fantástico na sua mão, ótimo, se não tudo bem, pois o divino também está presente no amor e teimosia humanos que nos fazem continuar comparecendo para fazer nossa parte todos os dias.

Desde Setembro de 2009 não coloco nada no blog, nenhuma produção ou experiência. Talvez por receio de postar algo menos inspirado do que já postei, talvez por não estar comparecendo para minha parte como deveria... O que está na gravação abaixo não veio de um dia particularmente inspirado mas de um esforço de dizer algo, mesmo sem saber bem o quê...
(começa com "música falada", depois "música cantada")

Improviso 28/03/2010



Trechos da fala de Elizabeth Gilbert:

"séculos atrás nos desertos do norte da África, as pessoas se encontravam para fazer música e dançar ao luar até o amanhecer, era sempre magnífico porque os dançarinos eram profissionais incríveis..., mas raramente, acontecia alguma coisa, e um desses bailarinos realmente transcendia, como se o tempo parasse, e o dançarino entrasse numa espécie de portal e ele não fazia nada diferente do que vinha fazendo desde mil noites atrás mas é como se tudo se alinhasse, e de repente ele deixasse de ser apenas humano, ele era iluminado de dentro para fora, e debaixo para cima, todo iluminado pelo fogo divino."

"E quando isso acontecia, naquele tempo, as pessoas sabiam do que se tratava e a chamavam pelo nome. Elas juntavam as mãos e cantavam, "Alá, Alá, Alá, Deus, Deus, Deus". Era Deus, entendem? ..."

"Mas a parte complicada acontece na manhã seguinte, para o dançarino, quando ele acorda e descobre que é terça feira, são 11 da manhã e ele não é mais um lampejo divino. Ele é apenas um mortal que está envelhecendo com joelhos estourados..."

Poema de Mario Quintana:

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as
                                [únicas
que o tempo não conseguiu levar :

um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento...

Nelson –   – (29 de março de 2010 às 12:50)  

Oi Julius muito obrigado por essa mensagem o trecho da dança tribal chegou sincronizado com umas "conjunturas cósmicas" que ando acompanhando; neste próximo dia 30 há um alinhamento da Lua cheia com a estrela Spica. Procure reservar um momento de silêncio e de vigília, há uma nova "Dança" querendo descer.
Sobre a questão da criação e da dor, entendo que ela é natural, não deveríamos anestesiar o processo criativo e transformá-lo em cesárianas. Podemos apenas não confundir dor com sofrimento, não é porque dói que precisamos sofrer. O sofrimento é um peso a mais que colocamos sem necessidade.
O que acontece: o verdadeiro e solitário impulso criativo vem sempre de dentro, com autorização da Alma do autor, isso garante o sucesso da obra, mesmo que ela não seja compreendida ou aceita. É um impulso incondicional.
Esse toque criativo é Luz, e assim como a eletricidade em um fio, a nossa estrutura humana ainda tem pouquíssima transparência e oferece grande resistência a passagem da mesma, assim como a dificuldade para um bebê nascer.
Comparecer, ser fiel, persistir é importante, porque cada pouquinho de Luz que passa vai queimando impurezas da nossa estrutura, e facilitando assim a circulação dessa energia criativa. São impurezas genéticas, de apegos, de vícios, de medos, de orgulhos, vaidades, etc, elas enfraquecem, distorcem e até traem o impulso Luz que descia tentando gerar uma expressão original.
Mas, essas queimas e conflitos, tudo isso é dor, mas também é amor ao processo. Pela lei da harmonia nada Novo pode nascer sem amor. Assim para ir superando a inércia da matéria precisamos aceitar essa dor com alegria e não desenvolver ainda mais um filtro, um mecanismo psicológico artificial para evitá-la, ou colocar açúcar tentando mascarar a coisa.
Aspirar em reverência ao sagrado do nosso ser e procurar se alinhar prá facilitar, e permitir que essa Luz passe através de nós (com o sem dor), vai gradualmente purificando e aumentando a vibração das nossas células, (físicas, emocionais e mentais), de maneira que a resistência vai ficando cada vez menor. O que não significa que a dor vá diminuir porque a Luz também passa a vir em voltagens cada vez mais fortes.
Os grandes mestres da arte, depois de séculos de caminhada, alcançam um ponto de síntese dentro de si, onde a dor e o prazer viram uma coisa só.
Se ainda não viu, recomendo fortemente a leitura de um livrinho fininho chamado "Cartas a um Jovem Poeta" de Rainer Maria Rilke.

Anônimo –   – (2 de abril de 2010 às 14:44)  

Oiii ZZZZJuliuuuuzzz!

Eu tenho que trabalhar então estou não-trabalhando e lendo o seu blog hehehehe J

Fiquei com vontade de ler esse livro, mas não sei se aquele cursinho de inglês de 1900 e alguma coisa vai ressuscitar.
Faz lembrar um livro da Fayga Ostrower, que adoro, "Acasos e Criação Artística". Fayga considera o processo criativo como resultado do fazer diário e da sensibilidade e permeabilidade do artista aos fatos. Nesse processo, o momento de inspiração seria na verdade um reconhecimento e uma “descoberta de harmonia nas ordenações livres” em situações já vivenciadas anteriormente. É muito interessante, embora ela se remeta mais às artes plásticas, tem análises de situações pertinentes a toda linguagem. “É precisamente o sentido profundo que uma vivência teve para nós, sua essência, que será reconhecida nos acasos. Na memória, o incidente fora despojado de aspectos corpóreos ou circunstanciais ou de outras irrelevâncias, e fora mentalizado como um significado último. (...) Para os processos criativos, é indispensável que as experiências tenham sido abstraídas em puros significados. (...) Quando, reavivados, vierem à tona certos conteúdos de experiências anteriores, eles chegam como que recarregados pelas energias vitais do inconsciente da pessoa. Provocam reações intensas - a própria excitação da pessoa já sendo prova de que algo de suma importância deve ter lhe acontecido - não só no sentido de acelerarem um processo de elaboração formal, mas também no sentido de exigirem, imediata e terminantemente, novas avaliações, novas atuações e um novo tipo de equilíbrio: uma síntese ”.
O processo da dança coletiva, mencionado no artigo que você destaca, fala de um aspecto em que também eu creio, na mobilização energética. O corpo em movimento (exterior e também interior), cria estados energéticos, que certamente são reavivados nos insights.
No seu caso, esse processo de criação dos loops é solitário. Ou um encontro de Julius com o Zuza J.
Quando penso na figura típica de um artista em um atelier, é mais fácil visualizá-lo manipulando sua matéria, o que não fica tão evidente talvez num estúdio de música. Mas o som, embora invisível, também é matéria, deslocando o ar, num estado energético, com sua dança em ondas. E você, com outras ferramentas, em outros tempos, está mobilizando sua energia, sua memória, o corpo, sua vitalidade, suas vivências, vai dando forma e vida aos fragmentos sonoros que se transformam em música.

Ohhhh, vou trabalhar.
Feliz Páscoaaaa!

Bjim

Lisi.

Anônimo –   – (15 de abril de 2010 às 21:11)  

Então, Julius

Tem um livro muito legal sobre "Criatividade"... não apenas criatividade, mas algo mais como o destino e o sentido da vida (claro que em um sentido individual - como autocriação ou "querer ser" - vide Jurgën Habermas, Jean Paul Sartre, etc).

Você estava falando sobre Daimons ou Daimon, ou Daemon.

Tem um tiozinho que estudou pra caraio esse assunto. O nome dele é James Hillman, e o livro é "The Soul's Code". Eu tinha esse, mas você me conhece. Vivo emprestando livros e lidando com o desaparecimento destes, senão te emprestava.
Mas REALMENTE vale a pena.

Valeu pelo comentário no meu blog, man.

Atualmente estou numa sinuca de bico, money vs realization.

Preciso de money, mas money sem realização pessoal é uma #@$@#. Preciso de realização pessoal, mas sem money, também é uma #@$@#$.

Deixei um recado no site do Figão, um assunto sério que precisamos definir muito em breve.

Vide: "Cerveja???"

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